A Leishmaniose Visceral ainda gera muitas dúvidas. Bastante grave e infecciosa, esta doença pode afetar tanto os pets quanto os seres humanos. Trata-se de uma zoonose que pode, em casos mais graves, levar ao óbito.
Os cães domésticos, infelizmente, são os principais reservatórios da Leishmaniose Visceral em áreas urbanas. Na maior parte das vezes, os animais contaminados não apresentam sintomas.
Ao conviver com um pet aparentemente saudável, mas que possui a doença, os tutores correm o risco de serem picados pelo flebótomo (inseto) que faz a transmissão da doença do pet para os humanos e entre humanos também.
Recentemente, em nosso Podcast “Grupo Hospitalar Pet Support”, convidamos as Médicas Veterinárias Dra. Anna Luísa Campelo (CRMV-RS 5534) e Vanessa Jegan (CRMV-RS 11247) para falarem sobre a Leishmaniose Visceral.
Veja abaixo os principais pontos da entrevista. Para outras informações, acesse o material completo em nossa conta “Grupo Hospitalar Pet Support”, no Spotify.
Como a doença é provocada?
A Leishmaniose Visceral é provocada por protozoários do gênero Leishmania. A transmissão é vetorial e feita por insetos muito pequenos, com cerca de 2 a 4 milímetros, os flebotomíneos. Em especial, o mosquito-palha, (Lutzomyia longipalpis).
O mosquito-palha se alimenta de sangue e apresenta coloração bege ou cinza. Eles possuem asas eretas sobre o corpo durante o repouso e outras características particulares, como o padrão de voo saltatório. Ele percorre cerca de 250 metros a 2,5km em pequenos saltos.
Além disso, os estudos mostram que ele costuma ficar mais ativo entre o fim da tarde e noite. É quando ele costuma fazer o repasto (se alimentar de sangue).
Diferente dos mosquitos comuns, que se reproduzem em água parada, o mosquito-palha precisa de matéria orgânica para se reproduzir. Ambientes com restos de folhas, galhos e flores apodrecidas são os locais onde este inseto busca colocar seus ovos, especialmente quanto todo este material está levemente úmido.
Fezes de porcos e de galinhas também podem servir de ambiente de reprodução para o mosquito-palha. Por isso, fazer a limpeza de praças, quintais, sítios e fazendas é uma das principais medidas de prevenção contra a Leishmaniose
Transmissão da Leishmaniose Visceral
Como vimos, o mosquito-palha pode carregar consigo o protozoário Leishmania, contraído nas formas imaturas de outros animais contaminados.
A infecção de cães e gatos acontece quando o inseto pica estes animais em busca de sangue para se alimentar. Neste momento, ele transmite as formas já maduras da Leishmania para a corrente sanguínea dos pets.
Uma vez na corrente sanguínea, o parasita (protozoário leishmania) se espalha por todo corpo, afetando a medula óssea, fígado, baço, linfonodos, intestino e rins.
O parasita pode ficar no organismo do animal (cão, gato, cavalo, outros mamíferos silvestres) de 3 meses a 7 anos sem que ele apresente sintomas da doença. Entre 60% e 70% dos cães infectados não apresentam sintomas.
IMPORTANTE: Ao conviver com um pet aparentemente saudável, mas que possui a doença, os tutores correm o risco de serem picados por insetos que fazem a transmissão da doença do pet para os humanos.
Sintomas da Leishmaniose Visceral em Cães
A Leishmaniose pode afetar diversos sistemas. Por isso, os sintomas da doença, quando aparecem, podem ser muito variados e graves.
Entre os principais sintomas de Leishmaniose Visceral Canina, estão:
- Falhas na pelagem;
- Descamação ao redor dos olhos, focinhos e orelhas;
- Crescimento exagerado e irregular das unhas (unhas frágeis e retorcidas);
- Conjuntivite e distúrbios oculares;
- Aumento do volume abdominal (aumento do fígado e do baço);
- Aumento dos linfonodos;
- Hemorragias intestinais;
- Sangramentos no nariz e gengivas;
- Perda de apetite;
- Aumento na produção de urina;
- Diarreia;
- Apatia;
- Emagrecimento.
A Leishmaniose Visceral Canina ainda pode provocar aumento de órgãos como o fígado, o baço e lesões renais graves.
Diagnóstico da Leishmaniose Visceral
Caso o seu pet apresente algum dos sintomas acima, é fundamental procurar um médico veterinário para a realização de um diagnóstico preciso. Você, o seu pet, e toda a sua família podem estar correndo risco.
Por conta da variedade de sintomas – ou da ausência deles – o diagnóstico da Leishmaniose Visceral pode ser bastante complexo. Ele é realizado em diversas etapas e tem início com uma conversa sobre os hábitos de vida e local de moradia do animal.
Além dos exames físicos (em caso de sintomas), exames complementares de sangue, de urina e ecografia abdominal também podem ser solicitados. No entanto, para fechar o diagnóstico, podem ser necessários exames específicos.
Nesses casos, é possível recorrer a análises citológicas, que visam identificar a presença do protozoário no organismo do animal. Estas análises são realizadas através da aspiração por agulha de células da medula óssea ou dos linfonodos aumentados do pet. Uma vez visualizado o protozoário nas amostras, a doença é confirmada.
Outra possibilidade é a realização do diagnóstico através de um exame de sangue para avaliar a presença ou não de anticorpos que são produzidos pelo animal quando ele está infectado pela leishmaniose.
Ainda outra possibilidade são os exames moleculares (PCR), onde se pesquisa o material genético do parasita a partir de material coletado da medula óssea, linfonodos aumentados ou biópsia de pele. Uma vez identificado o material genético do protozoário nas amostras, a doença é confirmada.
Tratamento da Leishmaniose Visceral
Infelizmente, a Leishmaniose Visceral não tem cura. Os medicamentos e tratamentos disponíveis eliminam os sinais da doença e reduzem a carga parasitária, evitando que o pet seja um risco para sua família e sociedade. Ele envolve múltiplas medicações e são prescritos caso a caso de cada paciente.
Drogas imunomoduladoras, imunoterapia, drogas leishmanicidas e não leishmanicidas podem ser utilizadas. Assim como o suporte renal em casos mais graves. O rim é um dos órgãos mais prejudicados pela Leishmaniose Visceral.
Com o tratamento para a Leishmaniose Visceral, os cães podem passar a viver normalmente e, na maior parte das vezes, deixam de ser fontes de transmissão da doença. No entanto, é preciso lembrar sempre que, apesar de controlados, os parasitas continuam a viver no organismo do pet.
Caso o animal deixe de receber o tratamento adequado, ele poderá voltar a ter muitos parasitas na circulação, e voltar a transmitir a doença. O tratamento contra a Leishmaniose Visceral é para toda a vida.
Caso o animal não possa receber os cuidados necessários, ou a doença esteja muito avançada no momento do diagnóstico, a Eutanásia é a medida de saúde pública recomendada pelo Ministério da Saúde.
IMPORTANTE: Em seres humanos, o tratamento para a Leishmaniose é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Quanto antes o paciente procurar ajuda médica, melhor!
Prevenção da Leishmaniose Visceral
A melhor forma de lidar com a Leishmaniose Visceral é com prevenção. Por isso, as medidas de higiene, que visam interromper a reprodução do mosquito-palha são tão importantes.
Mantenha os quintais, jardins, praças, terrenos, sítios e fazendas sempre limpos. Evite o acúmulo de materiais orgânicos como folhas, galhos, flores e fezes de animais.
Além disso, é muito importante que os animais – mesmo aqueles que vivem em áreas urbanas e apartamentos utilizem repelentes adequados para repelir o mosquito-palha.
O mosquito-palha, vetor da Leishmaniose Visceral, procura locais quentes e úmidos para se reproduzir. Cidades com áreas verdes, como Porto Alegre, são propícias para a multiplicação dos insetos, especialmente no verão. O número de casos da doença em humanos e cães no Rio Grande do Sul é cada vez maior.
IMPORTANTE: Nenhum repelente é 100% eficaz. Por isso, as medidas de prevenção à Leishmaniose Visceral devem ser adotadas em conjunto.
Vacina contra Leishmaniose
Outro cuidado indispensável é a vacinação contra Leishmaniose. Ela está disponível apenas para cães. Ela pode ser feita já a partir de 4 meses de idade. O protocolo completo deve ser feito com 3 doses, respeitando o intervalo de 21 dias entre cada aplicação. A revacinação é anual, contada a partir da 1ª dose.
Para o cão começar o protocolo vacinal, é necessária a realização de um exame de sangue para detecção de anticorpos contra a doença – sorologia. Somente podem ser vacinados cães com sorologia negativa ou não reagente.
É preciso lembrar, no entanto, que a vacina não impede que o pet seja picado por algum mosquito-palha contaminado. Ela induz o animal a uma resposta imunológica mais forte. Contudo, há casos em que isso não acontece. O pet pode ficar doente mesmo vacinado.
Assim, mais uma vez, é muito importante que as medidas preventivas não sejam isoladas, mas combinadas: O pet, mesmo vacinado, deve utilizar repelentes e viver em um ambiente limpo, sem a presença do mosquito-palha.
Previna-se contra a Leishmaniose Visceral e proteja a sua família. Consulte o médico veterinário regularmente e siga o calendário de vacinas para cães corretamente. Os profissionais do Pet Support estão a sua disposição.
Como você, queremos que seu pet viva intensamente ao seu lado. Pensando nisso, elaboramos o checklist de medicina preventiva. Baixe nosso checklist gratuito!
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MSc. M. V. Vanessa Jegan (CRMV-RS 11247)
Dermatologia e Alergologia de Animais de Companhia.
M. V. Anna Luísa Campelo (CRMV-RS 5534)
Dermatologista Veterinária.